quinta-feira, 31 de julho de 2014



Não guardo memória de tudo o que não fiz,

nem sei mesmo no que me teria tornado,

abdiquei de as sentir, abstive-me de as viver.

 

Fui refém desse arrependimento,

fui infeliz em busca de outras vidas

não vividas, sem saber o que procurar.

 

Criei mundos imaginários, distintos do meu,

num movimento bipolar entre o ser

e o querer.

 

Perdi-me, deixei de entender como tinha

erguido as avenidas que guiavam as minhas

ações.

 

Incapaz de sair do labirinto, desfazer o nó

e desvendar o quebra cabeças, eu me

isolei, não soube comunicar.

 

Vivia um presente esperado, num misto de

desejo e angústia, de alegria e de fúria,

numa dor que sentia e não queria.

 

Não me amei, não permiti que me amassem,

não deixei que invadissem o meu mundo,

não sabia o que mostrar.

 

Sem futuro, algemado à vida, exigi de outros

o que eu não fazia e revoltei-me de mim mesmo.

Não quis morrer assim.

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