segunda-feira, 31 de março de 2014


Emigrei, deixei em minha casa a minha família, percorri milhares de quilômetros para encontrar uma casa vazia. Esta casa que não chamo lar passou a ser o meu espaço e o meu lar passou a ser uma casa em que já não habito, e com a qual tenho que me adaptar quando regresso, de tempos em tempos.

Nestes dias, todos nos sentimos perdidos das nossas rotinas, tentamos reajustar uma estrutura perdida, sinto-me por vezes estranho na minha casa e para a minha família. Vale o afeto, a necessidade dos abraços e dos beijos que troco com aqueles que também sofrem de estar sós.

Assim o tempo passa intensamente, mas continuo perdido, ganhei outros referenciais, o meu espirito vagueia por vezes pelo meu cotidiano do outro lado do oceano, confundo as rotinas, penso que também deixei algo de mim naquela casa vazia. Criamos outra vida, pois precisamos de continuar a nos sentir humanos.

O sentimento é estranho, por vezes perturba-me não saber onde quero estar, sabendo que perto de mim estão aqueles que me esperam ansiosamente, meses e dias contados. Sinto-me assim mal comigo mesmo, sinto-me perdido, desaprendi a viver esta vida.

Os dias passam, correndo entre amigos e família, sempre com o mesmo sentimento de não pertencer a lado nenhum. O tempo corre e os dias começam a ser contados no inverso, chora-se a dor da saudade, mais um longo tempo, mais um golpe nos elos que nos unem, em breve tudo será normal, estaremos todos habituados a estar distantes.

O que eu passo como pai, passei como filho, sei portanto avaliar quer o sofrimento do meu pai, quer o sofrimento dos meus filhos, pudera o meu pai me tivesse podido falar o que sentia, certamente o teria entendido mais cedo, talvez o tivesse desculpado, talvez eu tivesse sido mais feliz.
 

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